Festas - Enterro do Bacalhau
O cortejo fúnebre "Enterro do Bacalhau", tradição de riquíssimo valor cultural, é representado no lugar do Soutocico, numa manifestação teatral de rua, com cerca de 300 figurantes.
Representado pela primeira vez em 1938, constituiu tal êxito, que passou a ser a ser um ex-libris histórico-cultural, não obstante o mesmo ter sido proibido pelo regime de Salazar.
Quando aconteceu o Abril de 1974, as saudades do "Enterro do Bacalhau" eram tantas, que o Clube Recreativo e Desportivo do Soutocico decidiu reeditar o evento, fazendo para tal uma pesquisa apuradíssima. Reunidas as condições necessárias para a representação, e muito embora as autoridades religiosas voltassem a manifestar-se contra, certo é que voltou às ruas (a partir de 1977).
A tradição do "Enterro do Bacalhau" remonta ao século XVI, durante o movimento da contra-reforma. A Igreja proibia o consumo total da carne durante o período da Quaresma, abrindo um precedente a todos aqueles que comprassem a Bula. Este indulto religioso só servia para os mais abastados - que o podiam pagar -, enquanto os desfavorecidos teriam de se socorrer do peixe na sua alimentação durante as semanas da Quaresma. O peixe mais acessível era o bacalhau. O povo revoltou-se contra esta determinação, mas teve de se resignar, não sem antes criar esta festividade pagã, como sentimento de revolta pela sua impotência.
Os três principais sermões: "Vida e Morte do Bacalhau", "Testamento do Bacalhau" e as "Exéquias do Bacalhau", formam as quadras cantadas ao som da marcha fúnebre de Chopin. Para além dos três sermões apontados, é tradição a queima do Judas após o enterro. Logo que o bacalhau desce à cova, segue-se o sermão ao Judas. Seguidamente é queimado e rebentado entre alaridos e gáudio da multidão.